O futuro do trabalho é um assunto para o presente. Muitas discussões têm sido levantadas a respeito do tema e um aspecto que merece uma atenção especial são os desafios do sistema educacional. Afinal, é o jovem de hoje que moldará o mercado de trabalho de amanhã.
O livro Creating Innovators, de Tony Wagner, destaca questões como o que os educadores precisam para capacitar os jovens para que se tornem mais inovadores e empreendedores. O papel das instituições de ensino está sendo cada vez mais questionado, pressionando as mesmas a reverem seus modelos e velhos paradigmas (como o tempo de curso, tipo de conteúdo, metodologia de ensino e de avaliações). As soft skills (ou habilidades comportamentais, como criatividade, comunicação, cooperação e espírito crítico) nunca foram tão necessárias, mas ao mesmo tempo, nunca foram prioritárias nas escolas.
Independente do tamanho dessa revolução no ensino e de quanto tempo isso tudo levará, existe uma “espinha dorsal” que já precisa ser levada em consideração, a mesma que venho falando há algum tempo, quando me questionam sobre os atributos mais importantes para que as pessoas se preparem para o futuro do trabalho: o poder do protagonismo.
No novo mundo digital, com mudanças constantes e crescimento exponencial, acabou a era do profissional passivo no mundo corporativo. Antigamente, era a empresa a grande detentora da carreira e responsável pela realização (ou não) de quaisquer aspirações profissionais. Ou seja, aquela promoção ou expatriação sonhada e planejada degrau a degrau, numa equação totalmente calculada, está com seus dias contatos. São tantas mudanças, fusões, aquisições, re-priorizações e “pivotagens” de negócio, que garantir algo futuro a qualquer colaborador virou, além de utópico, contrário ao que os líderes esperam de quem trabalha com eles.
O que hoje se valoriza é o colaborador protagonista, capaz de tomar as rédeas de seu próprio desenvolvimento, ao mesmo tempo em que contribui para o crescimento acelerado das organizações, num ganha-ganha virtuoso. É aquele que identifica oportunidades de melhoria nos negócios da empresa em suas várias vertentes, envolvendo-se alémde seu cargo ou função. Por sua vez, vai colecionando expertise, vivências e experiências mais diversas na jornada de trabalho.
O foco é o profissional que identifica e busca preencher seus próprios gaps de habilidadescom aprendizado ao longo da jornada, dentro e fora da empresa, ao invés de esperar por algo que venha necessariamente direcionado ou financiado por ela. A responsabilidade pelo crescimento profissional sai das mãos das empresas e volta para o indivíduo.
Esse desenvolvimento pessoal auto dirigido também traz benefícios extras: além de ganhar maior controle sobre os rumos da jornada, aumenta a autoconfiança para abertura dos leques de escolha. Ou seja, se a empresa que estou não estiver oferecendo valores alinhados com a minha visão e objetivos, o meu storytellingpessoal (e não o meu crachá), me qualifica a buscar outras empresas onde a realização seja maior.
E qual a relação dessa nova realidade do mundo do trabalho com o da educação? Especialmente em um mundo em constante mudança e que necessita de uma revolução nos sistemas educacionais como um todo, protagonizar o aprendizado também dará vantagens competitivas a qualquer estudante.
Esse protagonismo cresce com experiências diversas, (acadêmicas ou não), que despertem paixões, habilidades. Participar de um curso rápido de ferramentas digitais promovido por empresas de ponta aos jovens (muitas vezes gratuitos), adquirir vivências com trabalho voluntário, fazer parte dostimes de esporte do bairro, tudo isso contribui para que o jovem molde sua jornada educacional segundo seus desejos e expectativas – não segundo exclusivamente o currículo oferecido pela escola onde cursa seu programa básico. Especialmente quando se fala das soft skills.
Destaco aqui a reflexão: a dependência de uma única fonte de aprendizagem para determinar o sucesso (ou não) da preparação para o mundo do trabalho, é uma manobra cada vez mais arriscada! Nesse mundo mutante, o estudante, assim como o colaborador, precisa estar antenado às mudanças do mercado, identificar suas oportunidades de desenvolvimento pessoal, e buscar esse conhecimento por meio das mais diversas fontes e vivências possíveis.
Isso é o que hoje, durante minhas entrevistas com executivos, busco entender: você reconhece que o mercado muda, mas o que está fazendo pra acompanhar tudo isso? Ou você continua culpando a sua escola, ou seu trabalho passado, por eventuais falhas nesse desenvolvimento?
Quanto antes incentivarmos os jovens a praticarem esse protagonismo na educação, mais cedo teremos colaboradores com as mesmas atitudes no mercado de trabalho.
Sobre Erica Castelo
CEO da The Soul Factor, uma empresa de Executive Search exclusiva, sediada nos EUA com alcance global, especializada em encontrar talentos para organizações multinacionais, digitais ou em transformação digital, Erica Castelo possui especialização em Design Thinking pela Stanford University Graduate School of Business, MBA em Marketing pela ESPM, Formação em Administração pela FGV e certificação como coach internacional pela Coach U University (USA).
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